quinta-feira, 20 de maio de 2010

E seu olhar foi de um divertimento confuso. Não consegui sorrir, porque ofegava. Porque suava. E m'escondia atrás da vergonha que de súbito queimou minha pele. Ele me interrogava.
- me traz um postal? -
E ele riu, sem acreditar no que ouvia. Isso porque corri até lá. Corri de pés descalços, a areia lenhando meus tornozelos, tudo. Nove quilômetros. Corri porque amava. Não a ele ou o seu silêncio; eu amava o contrário de mim, e odiava meus lamentos. Corri três praias, me perdi no mato, perguntei por ele com a respiração forte. E o encontrei numa mesa de bar, sorrindo sua despedida com uma Brahma gelada nas mãos.
Com os lábios trêmulos e a voz enrouquecida - eu não precisei dizer nada. Ele me segredou o passado do silêncio que o envolvia, feito confessasse seus crimes, um assassinato. Me contou que fugia. Vai virar o mundo, vai voltar para a Holanda. Eu corri, e também estava fugindo. Do medo, do esquecimento e de alguma idéia de destino.
Por isso - eu deitava a cabeça nas mãos, fugindo também do seu olhar de céu sem gravidade. Ele não entenderia, como me deixa aflita a idéia de ver uma pessoa pela última vez.
Que eu não posso me apaixonar por qualquer um, ele disse, que os homens têm muito medo. Muito medo de tudo. E eu disse a ele que não importava. Me apaixonar por ele foi a mentira mais sincera que já contei para mim.
Ele partiu no barco. Me abraçou forte e eu enterrei meu rosto em seu corpo, sem nem querer respirar, sem esperar mais nada do mundo.
O barco saiu de longe e ele olhou para o mar. Ele preferiu o mar. Eu me despi de qualquer ressentimento e preferi também.

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